sexta-feira, 29 de junho de 2012

Filme: O Garoto Selvagem


Assistir ao filme o Garoto Selvagem me fez parar e refletir sobre a prática pedagógica, sobre o que é ser educador, qual é o verdadeiro papel de um educador na vida de uma pessoa, quais as influências que ele pode ou não ter e deixar para um sujeito.
            O momento histórico vivenciado por Itard foi um período chamado de positivismo, que ocorreu na França por volta do século XIX. Corrente essa que defendia a ideia de que o conhecimento científico é o único verdadeiro. Uma teoria só poderia ser afirmada verdadeira se pudesse ser comprovada através da ciência, de métodos científicos. Assim a ideia do senso comum, de crenças, ou outro tipo de teoria não são consideradas como verdadeiras.
            Esse momento nos apresenta a forte influência na educação e trabalho desenvolvido com o menino, ele que foi “descoberto” na França por pessoas que moravam perto de uma floresta. Foi levado em seguida para Paris, a fim de que estudiosos pudessem tentar tomar conhecimento do que acontecia com ele, porque se movia e agia como um animal e não como uma pessoa e assim pudessem o tornar mais sociável.
            Ao chegar em Paris, foi levado para o Instituto de Surdos-mudos de lá para que pudessem iniciar os estudos com ele. No início apenas foi colocado naquele ambiente a fim de analisarem quais seriam suas reações, mas logo foi tido como o animal da turma, sendo que os outros meninos passaram a maltratá-lo. As pessoas não acreditavam que ele pudesse receber uma educação, que pudesse ser como os outros, foi aí que o professor Itard resolveu levá-lo para sua casa e lá, dia e noite, tentar desenvolver alguns métodos a fim de ensinar algo a ele.
            Com a ajuda da governanta, o primeiro passo era fazer com que se tornasse um humano de verdade, pois a aparência dele era de um animal. Assim cortaram seus cabelos, suas unhas, deram um banho para limpá-lo e colocaram roupas. A cada dia utilizavam de um material ou uma técnica diferenciada, mas os hábitos básicos eram trabalhados diariamente, para que ele pudesse ir compreendendo o que acontecia.
            As associações que estabelecia como, por exemplo, a água ao final de cada atividade feita corretamente, foram alguns dos recursos que deram certo, ele começou a compreender que ao acertar era recompensado, isso também nós usamos hoje na educação, e percebemos o efeito que isso dá com os alunos, pois todos, não importando ter ou não deficiência, ou a idade que tenham, entendem que apenas conseguem algumas coisas depois de realizarem corretamente o que é proposto.
            Ele aprende diversas coisas como usar roupas, sapatos, a pedir leite batendo em um jarro, como não sabe falar ele encontra outras formas de se comunicar. Assim percebe-se que não é necessária a fala, comunicação oral, para se estabelecer uma comunicação com as pessoas, podemos criar ou usar de outros métodos para fazer isso. Fato esse que logo me remeteu ao trabalho que desenvolvo com um aluno surdocego, que pela falta dos dois sentidos, visual e auditivo, usa de outras formas para se comunicar, e o mais interessante disso é que nós, educadores, mediadores é que devemos compreender o que aquele sujeito está querendo “falar”.
            A comunicação envolve a compreensão que temos de mundo, as vivências, mas ao ver um ser que muitas vezes não teve essas vivências ou experiências se comunicar, percebe-se o quanto a comunicação é algo complexo e ao mesmo tempo algo tão simples. Complexo, pois em alguns casos necessitamos de estudo para compreender o que o outro está tentando comunicar e simples, pois ao ver um menino que não passou por experiências e vivências de uma determinada situação, consegue se comunicar.
            A questão de ficar agressivo ao ser contrariado, isso também é algo interessante, pois é dessa maneira que ele consegue mostrar que não está gostando, que está cansado com determinada atividade. Quando começa a associar as palavras aos objetos fica nítido que compreende o que acontece, pois lhe é falado e mostrado o nome do objeto e em seguida ele dá o que foi solicitado.
            Esse filme nos mostra o quanto o educador especial, seja formado na área ou apenas aquele que trabalha com alunos com deficiência ou dificuldades, precisa ser paciente, lidar com suas angústias, medos, frustrações. Toda vez que Itard pensava em desistir, o menino lhe mostrava que os seus ensinamentos não haviam sido em vão, que o que aprenderá, mesmo que pouco, lhe servia pra algo, que era importante. O afeto entre os dois também comprova que sem esse não é possível criar um vínculo e desenvolver habilidades com alunos.
            Por diversas vezes me vi na imagem daquele professor, que com insistência e paciência, diariamente buscava fazer com que seu educando aprendesse algo novo, compreendesse a função da comunicação. Como já mencionei anteriormente, no trabalho que desenvolvo com o menino surdocego é necessária a mesma, ou maior ainda, dedicação, há uma resistência muito grande em tudo o que é feito, ensinado. Às vezes levo dias para fazer com que aprenda uma coisa simples, mas de uma hora pra outra tudo começa a fazer sentido.
            Precisamos lidar com nossos sentimentos diariamente, penso que isso seja fundamental no trabalho com essas pessoas especiais, pois se nós, adultos e estudados não conseguimos, como queremos que nossos alunos consigam. 

            Essa é uma boa sugestão de filme para quem quer aprender um pouco mais sobre essa área encantadora da educação...



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